sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Bolívia defende cultura de coca


Campanha inclui lançamento de refrigerante

A Bolívia quer mudar o texto da convenção da ONU sobre narcóticos, de 1961, que considera ilegal o hábito da mascar folhas de coca, muito comum naquele país. Para tanto, lançou uma ofensiva diplomática por cinco países europeus para buscar apoio para o fim da proibição internacional.

O país argumenta que mascar a folha não faz mal à saúde e faz parte de suas tradições medicinais, culturais e religiosas. O hábito de manter uma pequena quantidade das folhas amargas no canto da boca, muito difundido naquele país vizinho, reduz a sensação de fome e funciona como energético, evitando o sono e a sensação de cansaço. Se nenhuma objeção à proposta boliviana for enviada até 31 de janeiro, a proibição será derrubada, mas acredita-se que os Estados Unidos irão se manifestar contra a iniciativa. A folha de coca é a matéria prima da cocaína, droga cujo maior consumidor mundial são os Estados Unidos. Um quilo de folha de coca resulta em um grama de cocaína.

Esta semana, foi lançada no país uma bebida energética que usa como ingrediente a folha de coca, a Coca Brynco. O investimento foi de US$ 1 milhão – o equivalente a no câmbio de ontem. O objetivo, segundo o governo, é estimular o uso legal da coca, evitando que a produção seja canalizada para o narcotráfico. A apresentação da bebida ocorreu faltando apenas duas semanas para a conclusão do processo de consulta solicitado pelo presidente Evo Morales junto à ONU para descriminalizar o uso tradicional da coca.

Praticamente toda a população indígena vive do trabalho de cultivo da folha nas lavouras bolivianas. Quando eleito presidente, em 2005, Morales prometeu lutar pela descriminalização da planta. A Bolívia é o terceiro produtor mundial de folhas de coca, depois da Colômbia e do Peru.

O governo americano argumenta que a liberação abriria um precedente para que qualquer outro país tentasse excluir alguma das 119 substâncias consideradas narcóticas. Já a Polícia Federal brasileira estima que 80% da pasta de cocaína que entra no Brasil sejam de origem boliviana.

5 comentários:

  1. Esse "medo" que alguns governos têm da legalização de algumas plantas é por conta do lucro que elas deixariam de gerar caso fossem legalizadas.

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  2. Thales,
    isso vai mergulhar na questão das patentes e dos registros que não pertencem aos países mais poderosos. Lembra que os japoneses tentaram roubar o cupuaçu? A Amazônia está cheia de norte-americanos que exploram sementes e plantas nas nossas barbas. Mas a imprensa não está nem aí pra denunciar isso.

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  3. Recomendo um artigo publicado na Revista Brasileira de Ciências Sociais em 2010, que é muito esclarecedor sobre a relação entre a coca, acultura indígena e camponesa,e a política na Bolívia. Ilustra como a história recente daquele país se confunde com o drama da população camponesa gerado pelas políticas internacionais antidrogas.

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  4. o artigo mencionado, de Rosivaldo Silva de Souza, está no link:
    www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v25n73/v25n73a02.pdf

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  5. Olá Francisco,
    obrigado pela brilhante participação. Grande abraço
    Claudio Carneiro

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